A versão brasileira de “Carrossel”, que estreou no SBT, pode
despertar mais do que nostalgia. Nem estreou e a novela infanto-juvenil
já provoca polêmica. As perversas cenas de bullying sofridas pelo
personagem Cirilo, a criança pobre e negra da Escola Mundial, serão
mantidas na adaptação. “Não tem patrulhamento, vai ser igual ao
original”, afirma a responsável pela adaptação, Iris Abravanel, mulher
de Silvio Santos, contemporizando o grau de gravidade das sequências.
“Na verdade, nem acho que o que o Cirilo sofre seja bullying. Existe o
preconceito racial e social, mas é algo com a qual as pessoas convivem
na vida. É na escola que a criança aprende a se defender.”
No texto mexicano, de 1990, Cirilo era rejeitado pela vilãzinha da
turma, a bem-nascida e loira Maria Joaquina. Num dos capítulos, chama o
garoto, em tom de desprezo, de “negro”.
Iris não confirma a permanência desse tom agressivo na adaptação, mas
uma cena prevista para ir ao ar ainda nesta semana mantém o discurso
racista. Em sua festa de aniversário, Maria Joaquina amassa com as mãos o
buquê de flores que Cirilo lhe compra como presente. “Crianças sabem
ser cruéis”, reconhece Iris. “Mas a novela trata sobre esses conflitos,
que são comuns no dia a dia das crianças. E eles sempre são
solucionados entre elas. A ideia é discutir esses temas em família”,
garante. Na trama, esse olhar conciliador é dado pela doce professora
Helena. A personagem é interpretada pela atriz Rosanne Mulholland.
papel/ Intérprete de Cirilo na versão brasileira, Jean Paulo, 8 anos,
diz que vai tirar de letra o papel. “É tudo ficção. Ator tem de saber
separar uma coisa da outra para não ficar louco”, diz o garoto, que
contracenará com Larissa Manoela (do longa-metragem “O Palhaço”), de 10
anos. A atriz mirim, a mais experiente do elenco, também faz questão de
dizer que se dá bem com o colega. “Ficamos muito amigos, nos ajudamos
nessas cenas mais difíceis”, conta ela, que minimiza a vilania de Maria
Joaquina. “Ela é toda metidinha, faz maldades, mas não deixa de ser uma
criança.”
O elenco infantil é orientado por psicólogos e preparadores de
elenco. Dois diretores foram destacados para acompanhá-los diretamente.
Em cenas de choro, eles oferecem aos atores cristal japonês, substância
que estimula as lágrimas. “Crianças acabam exigindo mais da produção. O
cuidado é bem maior”, afirma o diretor geral Reynaldo Boury.
Apesar das polêmicas, “Carrossel” tem classificação livre. Iris acha
que não sofrerá perseguição dos politicamente corretos. “‘Carrossel’ é
só uma novela sobre o universo infantil.”
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