A vida imita a arte, já dizia o clichê, mas também a arte pode imitar
a vida, e sem querer querendo, pela mais pura coincidência.
Quando os caras-pintadas foram às ruas contra o presidente Collor, a
Globo já tinha programado a minissérie “Anos Rebeldes”; quando um
shopping explodiu em Osasco (SP), “Torre de Babel” já estava escrita; e
no clima dos atentados de 11 de setembro, a cultura mulçumana ganhou a
mídia na época da estreia de “O Clone”.
Teorias de conspiração em torno das coincidências sempre existiram,
como a ligação da produção das novelas “Que Rei Sou Eu?” e “O Salvador
da Pátria” com a candidatura de Lula a presidente no final dos anos
1980. Mas nem sempre dá para desconfiar.
Quando Ricardo Linhares começou a escrever o remake da novela “Saramandaia”
ele não poderia prever que o primeiro capítulo iria ao ar em meio a uma
avalanche de protestos pelo país. As manifestações dos saramandistas na
cidade de Bole-Bole coincidiu com a situação dos brasileiros nas ruas e
até atos (incluindo vandalismo em uma placa) e falas (citar
saramandalhas na TV, enquanto falava-se ptralhas nas ruas) remetiam a
fatos do cotidiano do telespectador.
“Saramandaia” foi a novela certa, no momento certo. Foi mais que uma
feliz coincidência, foi um respigo de alivio ver esta produção no ar
pela Rede Globo, que no começo parecia ignorar os protestos para dar
destaque às noticias da Copa das Confederações. Com direito até a um
plebiscito na história de Ricardo Linhares e na cabeça da presidenta
Dilma.
Mas outra novela também marcou a semana dos protestos brasileiros: “Carrossel”.
Neste caso, é ainda mais gritante a coincidência. As cenas da trama do
SBT foram gravadas há pelo menos cinco meses. O porteiro Firmino foi
demitido e crianças, filhas de ex-caras-pintadas, resolveram protestar
na porta da escola pedindo a volta do seu amigo ao emprego.
Mais uma coincidência a favor da novela: neste fim de semana teve a
Marcha das Crianças em Brasília. Creio que os roteiristas e diretores do
SBT não imaginavam que uma produção infantil gravada com tanto tempo de
antecedência conseguiria ficar tão atual, exibindo os pequenos
manifestantes exigindo “Firmino Já” e mostrando que não existe idade para lutar por seus direitos.
Fonte: Cultureba
0 comentários:
Postar um comentário